Augosto dos Anjos, 1884-1911.
Clotilde Tavares | 20 de abril de 2010Hoje comemoramos o nascimento do poeta Augusto dos Anjos, nascido em Sapé, Paraíba, há 126 anos.
Autor de poemas imortais, que estão impressos no DNA dos paraibanos como eu, como é o caso dos “Versos Íntimos”, Augusto era dono de uma sintaxe peculiar e de uma temática que o torna único entre os poetas brasileiros. Aprendi a recitar os sonetos de Augusto quando menina, e ainda sei, passadas tantas décadas, muitos deles. Quando estou sozinha, gosto de recitá-los em voz alta, deixando que os grandiosos versos se espalhem no ar, se desenrolem pelo espaço invadindo salas e quartos, passem à varanda e tomem conta da cidade, aumentando o teor de poesia do Universo. Com isso, obviamente, corro o risco de ser considerada doida e passível de internamento pelos vizinhos, mas confio no poder da Poesia e acredito na força da Arte. E continuo recitando.
Com vocês, Augusto dos Anjos! E recitem alto, por favor.
VERSOS ÍNTIMOS
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
E a mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
E escarra nessa boca que te beija!